La Villa Residencial Senior

Natália – filha da Dona Vera

Tenho uma necessidade que não consigo e nem procuro controlar… nos momentos de euforia, sejam eles alegres ou tristes, rotineiros ou novidades, preciso descrevê-los em detalhes. É um ímpeto que me acalma a alma e sossega o coração.
Toda situação nova nos tira de nossa ‘zona de conforto’ , como quando misturamos água e areia em um vidro e até que a areia se assente, a água fica turva…
E meu refúgio seja entre sorrisos ou lágrimas que também me turva a visão é escrever o que acelera ou aperta meu coração.
Perdi meu pai há quase 5 anos ( E até hoje é na memôria dele que busco forças para cuidar dela, sua amada e idolatrada Vera – E, quem não os conheceram não tem ideia de como ele mimava e bajulava minha mãe…)
Minha única irmã, por razões até alheias a vontade dela, foi morar quase que do outro lado do mundo…
E eu, de repente, me percebi em uma situação totalmente nova, diferente, que foge à minha capacidade de administrar…
Estou aprendendo com tudo isso que se consegui cuidar de crianças e me dar bem com adolescentes, isso não significa que tenho a mesma expertise para zelar e atender às necessidades da dita ‘melhor idade’.
Várias tentativas foram feitas, tanto de nossa parte como da parte dela, várias pessoas arrumadas e desarrumadas por motivos bobos e outros nem tão bobos assim.
Na casa dela precisava ter alguém e esse alguém não se acertava…
Na minha casa ela não se identificava, ficava como um ‘peixe fora d’água, uma estranha no ninho”…
Rotina de trabalho puxado que nos obriga a longos períodos de ausências, som alto de adolescentes a quase nos estourar os tímpanos, movimentos de amigos a sair e entrar todo o tempo, banheiro que não dispõe das tão indispensáveis barras, cachorros pelo caminho a obstruir as passagens, refeições em fins de semanas totalmente sem horários definidos quando muitas vezes era às 17:00 que o almoço saía.
Se ficar no seu própriio apartamento se transformou em um risco para ela, trazê-la para minha casa virou seu enorme sacrifício.
Mas o preconceito não nos permitia enxergar uma luz no fim do túnel.
Eu sempre tive comigo que a minha filosofia de vida é escolher um local em que eu possa seguir minha vida de acordo com minhas limitações e necessidades…
Já até acordei com meu ‘trio de meninos’
um ‘checlist’ do que pleiteio no lar para qual quero ir. E eles vivem bricando que o requisito mais importante é ter um frigobar cheinho de cerveja, o que vejo com bons olhos…
Mas fazer escolhas para alguém que não fez esta escolha para si foi um processo muito difícil e doloroso.
Porém Deus, em sua sabedoria e bondade foi nos guiando e através de uma amiga de trabalho fui chegando ao LA VILLA…
Primeiro contato com Cláudia, o encontro com Polyane, o ‘tour’ pela casa, o conhecimento da proposta…
Fomos apresentados para os outros meninos e meninas que lá residem ou trabalham.
Voltamos com muito mais medos e dúvidas mas com a certeza de que era o caminho certo.
Mas como dizer para ela?
Qual seria sua reação?
De repente fechar um apartamento tão lindo e bem estruturado mas onde ela passava os dias tristes e solitária só assistindo os Datenas da vida não era mais possível.
Pedi a Deus força… Pedi ao meu Pai do céu e ao meu pai da terra, que tanto a ama, a coragem necessária.
Mandei às favas uma sociedade que só sabe criticar e apontar ignorando o que trazemos na alma e no coração.
Não creio em sorte…
Creio em providências…
Tudo novo…
Daí resolvi fazer dentro da minha cabeça uma analogia que tem me ajudado MUITO…
Mamãe está indo para uma escolinha.
Foi assim que fiz com meus filhos ao colocá-los no Maternal.
Iam para a escolinha naquela fase muito mais para socializar do que aprender.. , para estabelecer rotinas de horários de alimentação, e com ela, principalmente de medicação, para não ficar sozinha em casa e conviver com outros da mesma idade. Ia para ter atividades compatíveis com sua idade e limitações, para aprender a dividir…
O carinho e atenção de quem está preparado e tem o dom divino de cuidar dos que AINDA (crianças) não conseguem se cuidar… e dos QUE NÃO MAIS (idosos) detém este auto cuidado…
Os assuntos de uma época que não volta mas que estão muito vivos no HD de suas memórias, as músicas que sabem de cor até hoje sem aquela barulheira das caixas de sons dos adolescentes, o tempo de ouví-los mesmo que para isso tenhamos que quase colar o ouvido em suas bocas e mesmo assim basta dizer um: é mesmo???ou pois é!!! Pois na realidade não entendemos NADA!!!
Mas já pouco importa o que verbalizam.
A voz baixa, rouca, arrastada já não organizando as palavras de maneira coerente há muito não tem mais obrigação de fazê-la.
Já cumpriu o que se propôs e no caso de meus pais, julgo ter cumprido com maestria, pois eu e minha irmã procuramos repassar para nossos filhos e quem está em nosso entorno,tudo que nos ensinaram – respeito e muita gratidão,.
É a comparação com a escolinha tem dado certo, pelo menos na minha cabeça…
Tem sexta que é dia de salgadinho, bolo e refri para cantar “Os Parabéns para você…’ Tem passeio na pracinha com direito a fotos… Tem roda de papo em uma convivência saudável em que uma plateia, mesmo que pequena, estão ali para ouvir suas histôrias, histórias que o mundo não tem mais paciência para ouvir de tão bitolados que estamos com teclados que nos roubam momentos tão especiais…
Tem o líder da turma ( Sr. Renato) que monopoliza o controle da TV e um segundo após a bênção da água durante a missa, já perambula pelos canais da TV. (Já aprendi que tem dias que adora conversar e contar casos, em outros não quer saber de papo. Respeitamos.) Tem o Sr. José Aparecido que adora um futebol na TV e só sabe rir dos lances, independentes se beneficia ou prejudica o seu time. Tem o maior orgulho de mostrar seus coloridos caprichados e afirmar, em cada página , que tudo no início era ‘preto e branco’… Que lição: No auge da idade avançada e com movimentos restritos alguém nos ensina que é possível sim COLORIR A VIDA!!!
Tem a D. Raquel que sempre quer saber quem é quem, onde moramos, o que fazemos…
Tem os mais caladinhos e reservados e os que não mais interagem tanto, mas são um presente apenas por estarem presentes.
A energia dessa escolinha é muito boa e sinto isso a cada recreio que vou lá. Pois as visitas semanais são os recreios que minha mãe tanto espera para nos ver e matarmos a saudade. Uma saidinha com os netos, o passear de carro, uma taça de acaí, a falação deles dentro do carro que ela não consegue mais acompanhar, o rádio alto que peço para abaixar a todo instante… e daí um tempo a gente volta e ela matou a saudade, sentiu que é importante para nós como sabemos sermos por ela…
Na despedida uma carinha de choro, o coração apertado com medo do adeus, mas como fazia com meus pequenos na escolinha dizia que era só um até breve. É com o tempo foram entendendo e nos despedíamos sorrindo ou até mesmo nem se despediam… saíam correndo e nem para trás olhavam.
Vai chegar este dia, não de sair correndo, mas de nos abraçar serena e dizer com segurança: ‘ vão com Deus e até breve”…
Que Deus abençõe as diretoras dessa escolinha: Cláudia, Karina e Polyane para conseguirem matricular muitos outros alunos e cada vez com mais qualidade e estrutura podendo desfrutar de cada cantinho que o espaço tem potencial para oferecer…
Que Deus abençõe a coordenadora Graziela sempre tão atenta às necessidades de sua aluna novata e em fase ainda de adaptação…
Que Deus abençõe a estagiária Letícia, que com seu jeitinho doce tem conseguido contornar as situações mais ariscas, mesmo que sua aluna agarre em sua blusa e não queira soltar. Ela só quer você, Letícia, pertinho dela…
Que Deus abençõe a técnica Sônia que na rotina noturna entre alimentos e medicações se desdobra para atender a necessidade de cada um…
Que Deus abençòe a técnica Juliana que por não mais ter a sua mãe neste plano, pediu para eu dividir a minha com ela, o que faço com um prazer enorme, pois não se trata de dividir o amor de minha mãe e sim multiplicar para nossa mãe o amor de filha. E a única “overdose” que faz bem para o corpo e para a alma é a do AMOR…
Que Deus abençõe a cantineira Cleide que tem bajulado muito essa D.Vera e que ela fez questão de apresentar para o neto. Pela manhã é café com leite e pãozinho doce… E o cardápio do sábado à noite??? Canjiquinha com carne de porco picadinha e couve, porque a D. Vera estava com vontade de comer.
Muito mimo!!!
Ainda não tive o privilégio de conhecer toda a equipe pois são apenas quinze dias que matriculamos minha mãe nessa escolinha, mas período suficiente para eu percebê-la mais calma, serena, muito bem cuidada o que conforta o meu coração.
Muitas bênçãos para TODOS do LA VILLA!!!
Estou em paz!!!
Grata!